quinta-feira, 13 de março de 2025

Delirar sobre a imigração. Demonizar

 

Delirar sobre a imigração

O sofrimento, permanente e continuado, afeta gravemente a nossa saúde e comportamento.

 

Num artigo publicado no The Guardiam de 12 de fevereiro de 2025, o autor escreve: “Numa geração, a Suécia tornou-se poliglota e cosmopolita – mas a negação encontrou a onda de supremacia branca que varre o país”

Contrariamente ao que o jornalista afirma, nada leva a crer que um número significativo de pessoas na Suécia tenha aprendido turco ou árabe. Quanto às culturas, tanto turca como árabe, enclausuradas pela religião e oprimidas por regimes autoritários, há muitos séculos que mal conseguem sobreviver.


A estratégia que o autor segue no seu artigo tornou-se clássica. O modelo consiste em fantasiar sobre as vantagens da imigração em massa -descontrolada e ilegal-, descontextualizar e desumanizar o fenómeno da imigração -que é sempre uma fuga e uma experiência terrivelmente traumática- e terminar a insultar os cidadãos dos países de acolhimento quando estes não partilham a opinião dos políticos e dos jornalistas. Por este ´delito de opinião´ o cidadão comum é demonizado: é acusado de ser desumano, retrógrada, racista, branco, homem, supremacista, populista de extrema-direita! Para as pessoas visadas, os cidadãos comuns, estes insultos são horrorosos e chocantes. A extrema-direita agradece à extrema-esquerda.

Na realidade a imigração em massa -descontrolada e ilegal- na Europa dos finais do século XX até hoje, tem sido um caos e uma enorme tragédia.

 

O que conduz as pessoas à condição de imigrante?

Na Europa, centenas de milhares de pessoas extremamente pobres e semianalfabetas, -oriundas de outros continentes- ´educadas´ e impiedosamente oprimidas por regimes ditatoriais e uma religião que, também ela, exige a submissão incondicional, foram forçadas a percorrer milhares de quilómetros para conseguirem sobreviver e dar de comer á família. Mas, no entanto, estes imigrantes não se opem nem ao regime, nem aos dogmas religiosos que são obrigados a seguir, e que os levaram à condição de refugiados.

 

O que leva as pessoas a recusar a sociedade de acolhimento?

Há luz da educação que lhes foi ministrada, dos hábitos culturais que lhes foram inculcados e da religião que têm de praticar, a grande maioria destes imigrantes chega à conclusão de que as sociedades ocidentais, laicas e democráticas, são impuras e desprezíveis. Nestas condições, é natural que a maioria dos imigrantes desprezem e desconsiderem o país de acolhimento, os seus cidadãos, costumes e tradições, história e religião. Assim, a grande maioria destes imigrantes não tem nem vontade, nem a intenção de se integrar na sociedade de acolhimento.  De acrescentar, que se houver tentativa de integração por parte de alguns imigrantes, ou seja, interesse pelas pessoas e pela sociedade de acolhimento, tal comportamento vai -invariavelmente- ser considerado reprovável, ofensivo e inaceitável pela comunidade e pela família do imigrante. Mais grave ainda, e extremamente perigoso para o imigrante, seria questionar os dogmas religiosos da sua comunidade e da família ou a legitimidade dos regimes autoritários e repressivos dos países de origem.

 

Processos de emancipação e de libertação

Os governos, os políticos, os partidos políticos e os meios de comunicação dos países de acolhimento sabem perfeitamente que os imigrantes foram oprimidos e incrivelmente maltratados nos países de origem -o que os obrigou a fugir- mas não questionam nem os governos, nem os dogmas religiosos que os impediram de se libertarem e de se emanciparem. Os governos, os políticos, os partidos políticos e meios de comunicação dos países de acolhimento tornaram-se coniventes com os sistemas políticos autoritários e as práticas religiosas dos países de origem dos imigrantes, mas, mais grave ainda, não os ajudam, ou apoiam, a desenvolverem processos autónomos de emancipação sociocultural e política.

Nos países de acolhimento, os grupos políticos e os seus ativistas, que apoiam e exigem a imigração em massa e a legalização dos ilegais, fazem-no numa perspetiva ideológica muito mais ampla. A sua estratégia consiste em enfraquecer sociedade para mais facilmente a influenciar.

Nos países de origem, os regimes políticos e as organizações religiosas enriquecem-se com as economias que os imigrantes enviam. 

Ninguém faz nada pelos imigrantes ou está interessado nos imigrantes. De uma forma ou de outra, todos exploram e oprimem os imigrantes, pessoas extremamente fragilizadas e que são impedidas de escrever a sua própria história.

 

A integração e a convivência pacífica, são possíveis

 Com se não houvesse História, nunca é assinalado o facto de que a imigração, igualmente em massa e muitas vezes ilegal, proveniente de Portugal, Grécia, Espanha e Itália, mas também da Polónia, entre anos 50 e 70 do século passado, foi absolutamente pacifica e que a integração destes imigrantes nas sociedades de acolhimento se realizou sem conflitos ou violência.

 

Pedir desculpa a uns, prestar ajuda a outros

É absolutamente inaceitável continuar a recusar fazer uma revisão honesta, numa perspetiva ética e humanista, das atuais políticas de imigração que têm estado na origem de indescritíveis tragédias. É necessário pedir desculpa à sociedade civil dos países de acolhimento pelo terror e pelo sofrimento que lhes tem sido infligido.  Não assumir os erros e, particularmente, continuar a não querer ouvir os cidadãos e a não querer falar com eles, é colaborar com quem tem como objetivo enfraquecer e destruir a nossa sociedade democrática.

No planeta, na ausência de alterações políticas de fundo, a imigração em massa e totalmente descontrolada vai continuar a aumentar, de forma exponencial, tal como os conflitos, a violência e o sofrimento. Para evitar que tal aconteça é urgente desenvolver nos países de origem políticas que se inspirem nos princípios de Good Governance que respeitam as Liberdades Individuais e os Direitos do Homem. Esta é uma estratégia de desenvolvimento socialmente responsável capaz de criar riqueza e permitir aos cidadãos construir a sua própria vida, em segurança e sem terem de fugir.

 

Manuel Fernando Menezes e Cunha

Lisboa 17 de fevereiro de 2025

 

Menezes e Cunha é psicólogo e economista. Escreve artigos de opinião no

sapo.pt e mantém diversos blogs.