domingo, 16 de março de 2025

A neurobiologia do charme

Que direitos tem o bebé à nascença? Nenhuns, ou só os que lhes dão?  

 

Contrariamente ao que nos dizem, quando nascemos não trazemos “direitos” connosco. Por exemplo os Direitos do Homem ou os Direitos Individuais. Por sua vez, direitos adquiridos ou acordados não são eternos e podem-nos ser retirados a qualquer momento.

Não há direitos e muito menos “direitos inalienáveis”.  Eu, ser humano, cidadão, homem ou mulher, adulto ou criança, não importa quem, à minha nascença não tenho nada, a não ser o meu charme. Algo que à primeira vista parece sem importância. No entanto, como bebé, para além do meu charme, nada mais tenho para chamar a atenção e para seduzir o outro, do qual dependo.

Do charme dos bebés aos direitos que nos acordamos uns aos outros.

Fazendo uso do seu charme, o bebé vai tentar que o amem e que não lhe façam mal. Vai ser para ele e para os outros uma aprendizagem difícil, longa e tortuosa.

Mais tarde, a criança, o jovem e o adulto vão tentar proteger-se e acordar com os outros humanos que o amem e que não lhe façam mal. Eles vão fazer exigências. No mínimo vão exigir do jovem e do adulto o mesmo que eles esperam deles. Para se protegerem, escrevem o que acordaram serem os direitos de cada um e de todos. Para tal fazem uso, por exemplo, da Constituição do país onde nascerem. Fundamentalmente, tudo se resume ao direito ao amor e à segurança. Tudo isto é básico, elementar, mas, mesmo assim, exige muito esforço e esforço continuado. Entre humanos, nunca nada está garantido.

Temos alguma dificuldade em aprender a amar e a ser amado e damos muito pouca atenção a esta aprendizagem.

Porque é importante não ferir o outro?

Como agir quando tal acontece?

Que fazer quando nos ferem?

A biologia dos direitos

Felizmente que a nossa neurobiologia nos ajuda. Quando nos fazem mal, ou quando fazemos mal ao outro, sentimos sofrimento, angústia e remorso. Todo o nosso organismo se altera e se deteriora. Quando amamos e somos amados, a sensação é excelente e a nossa saúde fortalece-se.

“Os direitos”, como por exemplo a liberdade para dizer “não”, sem que nos magoem de seguida, são uma necessidade de ordem neurobiológica que não conseguimos renegar.

“Os direitos” são também uma necessidade de ordem social que não conseguimos dispensar. Sem eles, sem os nossos direitos, temos uma extrema dificuldade em conviver uns com os outros -construir uma sociedade-, sentimo-nos bastante mal e acabamos por nos autodestruirmos.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Delirar sobre a imigração. Demonizar

 

Delirar sobre a imigração

O sofrimento, permanente e continuado, afeta gravemente a nossa saúde e comportamento.

 

Num artigo publicado no The Guardiam de 12 de fevereiro de 2025, o autor escreve: “Numa geração, a Suécia tornou-se poliglota e cosmopolita – mas a negação encontrou a onda de supremacia branca que varre o país”

Contrariamente ao que o jornalista afirma, nada leva a crer que um número significativo de pessoas na Suécia tenha aprendido turco ou árabe. Quanto às culturas, tanto turca como árabe, enclausuradas pela religião e oprimidas por regimes autoritários, há muitos séculos que mal conseguem sobreviver.


A estratégia que o autor segue no seu artigo tornou-se clássica. O modelo consiste em fantasiar sobre as vantagens da imigração em massa -descontrolada e ilegal-, descontextualizar e desumanizar o fenómeno da imigração -que é sempre uma fuga e uma experiência terrivelmente traumática- e terminar a insultar os cidadãos dos países de acolhimento quando estes não partilham a opinião dos políticos e dos jornalistas. Por este ´delito de opinião´ o cidadão comum é demonizado: é acusado de ser desumano, retrógrada, racista, branco, homem, supremacista, populista de extrema-direita! Para as pessoas visadas, os cidadãos comuns, estes insultos são horrorosos e chocantes. A extrema-direita agradece à extrema-esquerda.

Na realidade a imigração em massa -descontrolada e ilegal- na Europa dos finais do século XX até hoje, tem sido um caos e uma enorme tragédia.

 

O que conduz as pessoas à condição de imigrante?

Na Europa, centenas de milhares de pessoas extremamente pobres e semianalfabetas, -oriundas de outros continentes- ´educadas´ e impiedosamente oprimidas por regimes ditatoriais e uma religião que, também ela, exige a submissão incondicional, foram forçadas a percorrer milhares de quilómetros para conseguirem sobreviver e dar de comer á família. Mas, no entanto, estes imigrantes não se opem nem ao regime, nem aos dogmas religiosos que são obrigados a seguir, e que os levaram à condição de refugiados.

 

O que leva as pessoas a recusar a sociedade de acolhimento?

Há luz da educação que lhes foi ministrada, dos hábitos culturais que lhes foram inculcados e da religião que têm de praticar, a grande maioria destes imigrantes chega à conclusão de que as sociedades ocidentais, laicas e democráticas, são impuras e desprezíveis. Nestas condições, é natural que a maioria dos imigrantes desprezem e desconsiderem o país de acolhimento, os seus cidadãos, costumes e tradições, história e religião. Assim, a grande maioria destes imigrantes não tem nem vontade, nem a intenção de se integrar na sociedade de acolhimento.  De acrescentar, que se houver tentativa de integração por parte de alguns imigrantes, ou seja, interesse pelas pessoas e pela sociedade de acolhimento, tal comportamento vai -invariavelmente- ser considerado reprovável, ofensivo e inaceitável pela comunidade e pela família do imigrante. Mais grave ainda, e extremamente perigoso para o imigrante, seria questionar os dogmas religiosos da sua comunidade e da família ou a legitimidade dos regimes autoritários e repressivos dos países de origem.

 

Processos de emancipação e de libertação

Os governos, os políticos, os partidos políticos e os meios de comunicação dos países de acolhimento sabem perfeitamente que os imigrantes foram oprimidos e incrivelmente maltratados nos países de origem -o que os obrigou a fugir- mas não questionam nem os governos, nem os dogmas religiosos que os impediram de se libertarem e de se emanciparem. Os governos, os políticos, os partidos políticos e meios de comunicação dos países de acolhimento tornaram-se coniventes com os sistemas políticos autoritários e as práticas religiosas dos países de origem dos imigrantes, mas, mais grave ainda, não os ajudam, ou apoiam, a desenvolverem processos autónomos de emancipação sociocultural e política.

Nos países de acolhimento, os grupos políticos e os seus ativistas, que apoiam e exigem a imigração em massa e a legalização dos ilegais, fazem-no numa perspetiva ideológica muito mais ampla. A sua estratégia consiste em enfraquecer sociedade para mais facilmente a influenciar.

Nos países de origem, os regimes políticos e as organizações religiosas enriquecem-se com as economias que os imigrantes enviam. 

Ninguém faz nada pelos imigrantes ou está interessado nos imigrantes. De uma forma ou de outra, todos exploram e oprimem os imigrantes, pessoas extremamente fragilizadas e que são impedidas de escrever a sua própria história.

 

A integração e a convivência pacífica, são possíveis

 Com se não houvesse História, nunca é assinalado o facto de que a imigração, igualmente em massa e muitas vezes ilegal, proveniente de Portugal, Grécia, Espanha e Itália, mas também da Polónia, entre anos 50 e 70 do século passado, foi absolutamente pacifica e que a integração destes imigrantes nas sociedades de acolhimento se realizou sem conflitos ou violência.

 

Pedir desculpa a uns, prestar ajuda a outros

É absolutamente inaceitável continuar a recusar fazer uma revisão honesta, numa perspetiva ética e humanista, das atuais políticas de imigração que têm estado na origem de indescritíveis tragédias. É necessário pedir desculpa à sociedade civil dos países de acolhimento pelo terror e pelo sofrimento que lhes tem sido infligido.  Não assumir os erros e, particularmente, continuar a não querer ouvir os cidadãos e a não querer falar com eles, é colaborar com quem tem como objetivo enfraquecer e destruir a nossa sociedade democrática.

No planeta, na ausência de alterações políticas de fundo, a imigração em massa e totalmente descontrolada vai continuar a aumentar, de forma exponencial, tal como os conflitos, a violência e o sofrimento. Para evitar que tal aconteça é urgente desenvolver nos países de origem políticas que se inspirem nos princípios de Good Governance que respeitam as Liberdades Individuais e os Direitos do Homem. Esta é uma estratégia de desenvolvimento socialmente responsável capaz de criar riqueza e permitir aos cidadãos construir a sua própria vida, em segurança e sem terem de fugir.

 

Manuel Fernando Menezes e Cunha

Lisboa 17 de fevereiro de 2025

 

Menezes e Cunha é psicólogo e economista. Escreve artigos de opinião no

sapo.pt e mantém diversos blogs.

 

 

Como decorre a integração de um grupo de pessoas numa sociedade que lhes é estranha?

 

Consultores DSS

     Consultores DSS

Desenvolvimento Económico e Sociocultural Socialmente Sustentável

www.consultoresdss.pt

 

O sofrimento, permanente e continuado, afeta gravemente 

a nossa saúde e o nosso comportamento.

 

Documento de Trabalho produzido no âmbito da Assessoria Social

 

Como decorre a integração de um grupo de pessoas numa sociedade que lhes é estranha?