Nova Iorque, Magdeburg e New Orleans.
Três atos terroristas, unipessoais, em menos de um mês.
Quem é a pessoa que resolve atacar a sociedade?
Se ninguém nasce terrorista, como se cria então um terrorista?
Como aparecem o desespero, o rancor, o desejo irresistível de vingança, de aterrorizar, matar e morrer? Como evitar tamanha catástrofe para o individuo e para a sociedade?
Uma tentativa de resposta.
As nossas vivências, conjeturas e emoções determinam os nossos comportamentos.
Enormes e permanentes tensões sociais, são um facto inegável.
Muitas pessoas sentem-se maltratadas, desrespeitadas e deprimidas. Já não se sentem com forças para chegarem ao fim do dia e têm enormes dificuldades para chegarem ao fim do mês. Imensas famílias e crianças não têm palavras para descreverem o seu sofrimento e o sofrimento que veem nos outros. Queixas e protestos são, sistematicamente, ignorados e reprimidos. Não há respostas nem alívio.
As pessoas sentem-se enganadas e, não raramente, insultadas pelos governantes e pelas elites; têm a sensação de que estes não sentem o seu sofrimento, enquanto se enriquecem e se divertem. A solidão, a angústia e o desespero que estas sensações provocam sufocam as pessoas e atiçam o ressentimento. Por vezes, a vida torna-se vazia e sem sentido. Mesmo neste contexto o ato terrorista é raro, mas o suicídio aparece, cada vez mais, como uma possível resposta ao sofrimento insuportável e sem fim à vista.
Muitas vezes, o ato terrorista é uma manifestação da frustração e do rancor sentidos pela não aceitação dos dogmas da ideologia, religiosa ou política, com a qual o individuo ou o grupo se identifica.
A pessoa coloca as suas crenças acima da humanidade e atribui-se uma missão: afirmar a sua fé, castigar, vingar-se do seu ressentimento, fazer sofrer, aterrorizar e submeter os não crentes. O sacrifício humano, pelo terror que causa, é o meio escolhido. O ato terrorista é uma vingança, uma ameaça e uma estratégia de persuasão da pessoa desumanizada que não soubemos cuidar.
Assim como ninguém nasce com ideias suicidas ou dogmas, também ninguém nasce com uma perturbação psíquica (ou emocional).
A perturbação de personalidade antissocial é frequente e desenvolve-se em todos os estratos sociais. Por si só, esta perturbação, muito grave, não impede que muitas pessoas alcancem posições de relevo na sociedade. Particularmente nestas situações, as consequências do comportamento de pessoas insensíveis à humanidade, que detestam que as contrariem, que manipulam e mentem, de forma compulsiva, para obter os seus fins e benefícios, sem olhar a meios, tem, geralmente, consequências catastróficas para as outras pessoas e para a sociedade. Aqui, a prática do terror e da crueldade, nas suas variadíssimas formas, é um comportamento normal e recorrente, que não molesta quem o pratica e de quem não cuidamos.
Como se podem proteger as pessoas e a sociedade?
Níveis elevados e permanentes de insatisfação e revolta, exercem uma influência extremamente negativa na saúde e no comportamento dos adultos, das crianças, da sociedade civil, das empresas e das instituições. Os cidadãos sabem que adoecem e morrem precocemente quando não conseguem governar a sua própria vida, quando a missão que lhes foi atribuída é servir e consumir. Assim é necessário divulgar a necessidade e a urgência de criar um projeto comum, para bem de todos: uma sociedade humanista e realmente democrática, que nos permita cuidar e proteger, viver como muito bem entendermos, sem fazer mal a ninguém.
Manuel Fernando Menezes e Cunha